tag:blogger.com,1999:blog-58086486954728650832024-03-13T11:41:14.212+00:00O leitor sem qualidadesleituras dos livros e do mundo, auto-ficções e outras bifurcações / um blogue de João VenturaUnknownnoreply@blogger.comBlogger198125tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-8734844282687708762015-09-08T19:19:00.002+01:002015-09-14T15:28:12.255+01:00Estranhos de passagem
Nas últimas semanas, temos assistido ao êxodo dramático para a Europa, com o objectivo de chegarem à Alemanha, de milhares de migrantes e refugiados. Homens, mulheres e crianças, famílias, fugindo da guerra e da barbárie terrorista perpetrada pelo auto-designado estado islâmico que o mundo deixou instalar nos seus territórios, sobretudo na Síria, na Líbia, no Iraque. Pelo caminho, à Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-68296270304341756162015-07-14T10:08:00.000+01:002015-08-31T20:11:51.937+01:00Autofagia europeia
Que mais poderia eu dizer aqui que não tenha já sido dito,
ontem e hoje, e antes, por quem tem autoridade para o dizer, como os "nobel"
Paul Krugmann ou Joseph Stiglitz e tantos outros, de lá de fora, e de cá de
centro, e comentadores também, uns mais à esquerda e outros mais à direita, e
outros nem por isso - se é que estes conceitos, ainda, fazem algum sentido, ou
independentemente do Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-60810899697958461652014-12-28T01:56:00.003+00:002014-12-28T13:32:02.319+00:00Um conto de Natal
Há quem diga que foi Charles Dickens quem inventou o Natal conforme ao espírito de fraternidade com que hoje lhe atribuímos. Ou que, pelo menos, foi ele quem no seu Conto
de Natal (1843) acendeu as primeiras luzes natalícias numa época em
que a sua celebração era obscura e nada solidária. Melhor que qualquer outro escritor, Dickens compreendeu o significado do espírito Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-38281668237782305282014-12-21T22:16:00.001+00:002015-09-01T12:53:11.770+01:00Gente de Montevideu
Talvez
por estarmos a entrar na curva descendente do ano em que se celebrou o
centenário do nascimento de Julio Cortázar e de Adolfo Bioy Casares, lembro-me
de, um dia, em Montevideu, ter falhado a possibilidade de me cruzar com os
personagens que um e outro, respectivamente, em La puerta condenada e
em Un viaje ou el mago inmortal, fizeram pernoitar num
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-14880233146410087502014-06-06T13:52:00.000+01:002014-12-28T00:45:43.570+00:00Na cama com Onetti
Por estes dias, no Uruguai, evoca-se os vinte anos da morte de Juan Carlos Onetti (Montevideu 1909-Madrid 1994). A sua derradeira fotografia, dando-se como desaparecido na sua casa de Madrid durante anos depois de se ter
exilado do Uruguai, parece contrariar um itinerário pessoal feito de
peripécias amorosas, empregos inverosímeis e mudanças drásticas. E, sobretudo, de literatura. Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-14440198106748514012014-04-01T12:50:00.000+01:002014-04-02T08:00:36.297+01:00Pessoa em Paz
No ensaio O desconhecido de si mesmo,
que prefacia a Antologia com que Octavio Paz dá a conhecer ao mundo de
língua espanhola um obscuro poeta português chamado Fernando Pessoa,
contribuindo decisivamente para incorporá-lo ao cânon literário
contemporâneo, o poeta e ensaísta mexicano escreveu que "os poetas não têm
biografia. A sua obra é a sua biografia. Pessoa, que sempre Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-62001869346686990222014-03-11T12:22:00.000+00:002014-03-13T16:26:51.909+00:00A esperança é abundante, mas não é para nós
Há sete anos anos passou na RTP1 a série documental Portugal - Um retrato social,
da autoria de António Barreto, com realização de Júlia Pontes e
pesquisa documental de Maria João Silva, que, na ocasião, me suscitou uma breve reflexão sobre aquele retrato da sociedade portuguesa que punha em confronto o que o país era à data da realização da série com o que o país tinha sido nas últimas
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-58892050571046353952014-03-08T23:23:00.002+00:002014-03-09T09:23:14.943+00:00Um dia triunfal
Conta Pessoa em carta dirigida a Adolfo Casais Monteiro que no dia 8 de Março de 1914 - faz, portanto, hoje, 100 anos - lhe aconteceu o seguinte: "acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever,
de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a
fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o
dia triunfal da Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-68716654069270338922014-03-05T18:20:00.001+00:002014-03-05T22:01:01.700+00:00A última carta de amor
Proust dizia que há apenas um único
grande livro que cada escritor escreve ao longo da sua vida. Talvez isso
se aplique a Carta a D. (Pianola, 2013), escrita e dedicada por André Gorz à sua mulher Dorine, no epílogo de uma vida partilhada a dois durante cinquenta e oito anos, e que foi o prenuncio de um desfecho shakespeariano, longamente planeado. De uma enorme sublimação estética - queUnknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-38263423564286526522014-03-03T20:56:00.000+00:002014-03-05T13:22:39.820+00:00Epitáfio
Releio alguns micro-contos de Augusto Monterroso e encontro o seguinte epitáfio que o escritor guatemalteco diz ter descoberto, um dia, num cemitério:
"Escreveu um drama: disseram que se julgava Shakespeare; / Escreveu um romance: disseram que se julgava Proust; / Escreveu um conto: disseram que se julgava Chekhov; / Escreveu um diário: disseram que se julgava Pavese; / Escreveu uma Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-14465762096252909232014-02-24T12:01:00.000+00:002014-02-24T12:52:15.635+00:00Sempre rumo a Ítaca
Leio em Alfabetos, livro de ensaios de literatura de Claudio Magris que, como todos os seus livros, é - como diz Enrique Vila-Matas - "um tapete que dispara em muitas direcções", um texto sobre Novalis que, citando o começo de Heinrich von Ofterdingen, obra-prima da literatura romântica alemã e europeia, propõe esta reflexão exemplar: "Onde vos dirigis?" - perguntam os viandantes - "Sempre Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-60202908867147522002014-02-18T14:35:00.000+00:002014-02-21T16:19:48.225+00:00Odisseia de desilusão
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<![endif]-->"Nenhuma viagem é demasiado longa e perigosa, sobretudo
se traz de volta a casa. Mas existem ainda casas onde voltar, alguma vez
existiram?", Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-87120744327354220952014-02-13T18:42:00.000+00:002014-02-13T19:49:05.579+00:00A dor dos animais
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Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-69009852921490879552014-02-05T00:18:00.000+00:002014-02-06T10:36:17.002+00:00Dez moradas de leitura
Dizia Jorge Luis Borges que deixava aos outros vangloriarem-se dos livros que tinham escrito e que a sua glória consistia antes nos livros que havia lido. E Roberto Bolaño que era "muito mais feliz lendo que escrevendo". Ora eu - que também me confesso um leitor feliz e dilatório, não o leitor interactivo dos livros da
moda, mas o leitor iterativo, assediado pelos labirintos de tinta
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-38047073662797881452014-01-29T23:37:00.002+00:002014-01-30T21:56:51.311+00:00A praxis do mal
Ignoro, na verdade ignoramos todos, se a tragédia da praia do Meco que matou seis jovens estará relacionada com um qualquer ritual da chamada praxe académica em que as vítimas estariam obedecendo a ordens do único sobrevivente, conforme suspeição que tem vindo a ser adensada nalguns media e que, ainda, hoje, fazia manchete especulativa num matutino. Isso, ao seu tempo, espero, esperamos, a Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-73713465644309578292014-01-24T10:50:00.000+00:002014-01-25T23:00:33.717+00:00A Viena dos cafés
Viena, capital do império habsburguiana, em cujos cafés - Sperl, Landtmann, Hawelka, Griensteidl, Braunerhof, Central -, Stefan Zweig descreve, em Mundo de Ontem, como "uma
instituição especial, que não pode ser comparada a nenhuma outra em
qualquer outro lugar do mundo. Um tipo de clube democrático, onde
basta comprar uma chávena barata de café para participar, onde cada
convidado Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-86637001208511166192014-01-18T16:30:00.001+00:002014-03-31T18:38:46.391+01:00A Europa dos cafés
A Europa era feita de cafés. Uma cartografia de encontro de poetas, escritores, artistas, filósofos, revolucionários, flâneurs. Como se a própria Europa fosse um grande café, lugar de hábitos metódicos e dos vaivéns casuais.
"Desenhe-se o
mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da ideia
de Europa", escreve George Steiner no ensaio A ideia da Europa. Na Milão deUnknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-62209339762703903912014-01-13T22:51:00.001+00:002014-01-13T23:43:44.497+00:00O rapto da Europa
Leio no El País
(5.Jan.2014) uma entrevista de Martin Schulz, onde Presidente do
Parlamento Europeu explica porque, por ocasião, da atribuição do prémio
Nobel da Paz à UE, utilizou o romance de Thomas Mann, Os Buddenbrook, como metáfora da Europa actual. "Uma metáfora porque narra uma
história através de três gerações: a dos fundadores, a dos
administradores e aquela em que se joga a Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-37881676733151251882014-01-12T22:57:00.000+00:002014-01-13T12:42:49.322+00:00Despudor televisivo
Comentando a morte de Eusébio, na sua coluna semanal do Público, "Estação Meteorológica", escreve António Guerreiro que "em momentos excepcionalmente favoráveis ao apelo à dramatização e ao olhar que se satisfaz (...) na sua própria emoção, as televisões mostram a sua face mais abjecta: é quando tudo fazem para introduzir as ditaduras do coração". Na semana que passou, aproveitando-se do Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-36554052663397656652014-01-06T21:34:00.000+00:002014-01-06T22:09:00.879+00:00A arca de Joseph Joubert
Poderá um nome de um escritor sem livro continuar a cintilar muitos anos após a sua morte, como uma espécie de Bartleby que renunciou não à escrita mas à publicação de um livro que ele não poderia nunca escrever sem ter antes encontrado a nascente de todos os livros?
«Atormentado pela maldita ambição de colocar um livro inteiro numa página, uma página inteira numa frase e essa fraseUnknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-3431034306276859922012-05-05T20:57:00.003+01:002012-05-05T20:57:47.476+01:00Cronópio por acaso
Julio Cortázar acreditava no acaso,
naquela série de pequenas coisas, de indícios, de combinações, de
"coincidências sempre extraordinárias e ao mesmo tempo comuns", como
testemunhou o seu amigo e editor Francisco Porrúa, que nos levam, por
exemplo, a escolher um caminho em vez de outro, para nele, depois,
encontrarmos o que não sabíamos ainda que procurávamos. E eu, Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-31882595691707477582012-04-23T16:26:00.000+01:002012-04-23T16:26:15.032+01:00Os livros dentro dos livros
Encontro sempre outros livros nos livros que leio. E leio-os procurando escapar às tentações hermenêuticas que sustentam uma certa leitura crítica, profissionalizante, controladora do sentido dos textos através de uma axiomática que procura iluminar o oculto, e que Foucault descrevia como uma «vontade de verdade». Não, não vou por aí, perseguindo a ilusória linha contínua da hybris do novo Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-31808048076919250412012-03-25T22:47:00.002+01:002014-01-11T22:51:08.081+00:00Recordações inventadas
"Afirma Pereira que o conheceu num dia de verão. Um
magnífico dia de verão, soalheiro e arejado, e Lisboa resplandecia…". Eu
conheci-o, tardiamente, graças ao filme Afirma Pereira, de Roberto
Faenza, adaptado do romance homónimo, protagonizado por Marcelo Mastroianni. E,
depois, perseguindo a sombra de Vila-Matas em Mastroianni-sur-Mer
perseguindo a sombra Tabucchi, passos rápidos, olhos Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-80868807429887861492012-03-21T13:06:00.001+00:002012-03-21T22:49:40.458+00:00Fogo lento
Se olharmos, actualmente, para os escaparates das livrarias, veremos que o que aí abunda é a redundância na qual se afunda o campo literário indelevelmente rasurado pelas regras do mercado e pelo desejo de uma nova «raça de escritores, imitadores do já feito», em permanecer na «eternidade preguiçosa dos ídolos», como escreveu Maurice Blanchot. Por isso, nestes «tempos de redundânciaUnknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5808648695472865083.post-73928794907113663062012-03-20T11:13:00.001+00:002012-03-21T16:41:23.444+00:00Um poeta do Sul
Haverá algum fio invisível a ligar António Ramos Rosa a Walser, Emmanuel Bove, Sebald, também eles cultores de uma metaliteratura? Teria Ramos Rosa lido estes escritores angélicos? Liga-os, talvez, a ideia de que o poeta é o que sacrifica tudo pela sua obra. Não que o poeta tenha cultivado como aqueles o desaparecimento, a ocultação do seu corpo, mas porque sempre Unknownnoreply@blogger.com0