Haverá um método para a escrita de um blogue que se pretende metaliterário? Não um método entendido na sua acepção positivista, isto é, sujeito a uma qualquer tentação hermenêutica e a uma vontade de tudo explicar, mas sim como expressão de uma errância através dos labirintos benjaminianos embebidos na tinta dos livros. Esta, portanto, a natureza do método que persigo, enquanto formulação mais ou menos ficcional da minha forma pessoal de me adentrar nos livros que vou lendo e de partilhar com aqueles que por aqui passarem uma certa volúpia que toda a leitura encerra.
Talvez, por isso, o método que Walter Benjamin propõe no seu Livro das Passagens seja, também para mim, uma boa escolha para me aventurar blogue adentro: «O método deste trabalho: montagem literária. Não tenho nada para dizer. Apenas para mostrar. Não escamotearei nada de valioso nem me apropriarei de formulações espirituosas. Mas os farrapos, o que cai dos dias: esses não vou inventá-los. Vou deixar que afirmem os seus direitos da única forma possível: dando-lhes uso» (W. Benjamin, O Livro das Passagens).
Formulação ficcional, portanto, porque controlada por uma certa diegese, mas sem pretensões de literatura. Reconfigurações ao acaso, cruzamentos, bifurcações. Glosas, anotações, remissões, indexações, comentários. Sobreposição de citações como "procedimento para converter o texto numa máquina de citações literárias que ajudam a criar sentidos diferentes" (Enrique Vila-Matas). Enfim, toda uma trama alheia, fragmentária, labiríntica que traz em si não apenas o estigma dos cruzamentos e da enxertia, mas também a nostalgia do todo de onde saltou e de que me apropriarei, depois, como um filólogo do inútil, para formar a trama híbrida de um novo texto. Auto-ficções, portanto.
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