11 de outubro de 2007

Retrato breve




Conheço pouco da obra de Doris Lessing, a laureada deste ano, mas gosto do seu olhar tranquilo, luminoso e, simultaneamente, distante. E mais do que a sua obra, desperta-me curiosidade a sua biografia. Uma mulher que nasce em Kermanshah, na Pérsia, e vai viver para África aos seis anos, que trabalha como telefonista em Salisbury, que é capaz de andar de país em país, deixando marido e filhos, escolhendo ser escritora, alguém sem formação académica e que mesmo assim constrói uma obra com a amplitude da sua, é com certeza mais interessante do que o cortejo de escreventes que publicam livros só porque ganharam um nome fora da escrita. Dela sei, ainda, que é uma escritora comprometida. Uma testemunha do seu tempo. «Uma contadora épica da experiência feminina [que] perscruta uma civilização dividida», como ouvi dizer a Lídia Jorge. Sei ainda que na sua autobiografia incompleta, a propósito de um saco que um dia uma portuguesa lhe ofereceu, escreveu que Portugal era «uma dessas regiões do mundo onde reina a graça do coração». E, há instantes, quando a vi noticiário, não pude deixar de pensar que também Agustina Bessa Luis merecia um prémio assim.

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