Consta que o venerado Valentim, mártir romano cúmplice dos amantes, conforme reza a lenda cristã, pagou caro com o seu sangue o engenhoso palíndromo “Romamor” em que defendia que o sentimento amoroso é uma matéria tempestuosa à qual não se pode escapar. Platão dedicou ao amor um dos seus mais famosos “Diálogos”, pondo na boca dos convivas do alegre “banquete” distintas maneiras de amar: o amor terreno com seu sedutor catálogo de tentações carnais e o amor idílico e platónico que ignora as possibilidades do corpo. O poeta latino Ovídio oferece-nos na "Arte de Amar" um manual do ofício da sedução, da infidelidade, do engano e do prazer sexual, elaborado a partir das suas próprias experiências. Como divindade mundana, Eros tende a favorecer até ao ilimitado essa atração tumultuosa entre indivíduos de sexo contrário.
De que falamos, então, quando falamos de amor? Talvez melhor do que em qualquer tratado sobre esse sentimento volúvel, é na literatura que encontramos o melhor catálogo de vivências da paixão amorosa. Porque o amor é, como diz Jorge Luis Borges, uma paixão literária “com as suas mitologias, com as suas pequenas magias inúteis” que convoca uma retórica, umas vezes platónica e elegíaca, outras vezes carnal e voluptuosa, das possibilidades do corpo.
Por isso, neste dia de São Valentim em que se evoca o enamoramento e o acasalamento, procuro no meu catálogo volúvel de histórias de amor duas representações distintas dessa retórica de encontros e desencontros geradora de incontrolados eflúvios hormonais, e proponho aos amantes que por aqui passarem que escolham a retórica da paixão que mais aprouver às suas tentações ou sublimações amorosas.
Que escolham, pois, entre Orgulho e preconceito, de Jane Austen, em que o amor está sempre à beira do casamento encerrando o sonho romântico, e Madame de Bovary, o romance do amor cego, adúltero e trágico por excelência, oferecido por Flaubert. Mas não os leiam esta noite, porque a leitura, parece, prejudica seriamente o amor e vice-versa.
Que escolham, pois, entre Orgulho e preconceito, de Jane Austen, em que o amor está sempre à beira do casamento encerrando o sonho romântico, e Madame de Bovary, o romance do amor cego, adúltero e trágico por excelência, oferecido por Flaubert. Mas não os leiam esta noite, porque a leitura, parece, prejudica seriamente o amor e vice-versa.
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