Ao texto sobre Obama que reeditei, aqui, ontem, acrescento, agora, o seguinte. É verdade que também a mim me surpreendeu este Nobel. Não é estranha, por isso, a estupefacção geral, sobretudo, porque Obama não teve tempo, ainda, de cumprir o anunciado programa de pacificação do mundo. Trata-se, então, de um Nobel que lhe foi atribuído não por aquilo que já fez, mas por aquilo que prometeu fazer e que foi - como escrevi no rescaldo da sua eleição - ter sido capaz de incitar, e excitar, a esperança de que, talvez, possa haver, ainda, outras possibilidades para o mundo. Uma espécie de «investimento» na paz, como declarou José Saramago.
Não foi, portanto, um reconhecimento dos méritos efectivos e tangíveis de Obama em favor da paz, mas sim dos méritos potenciais e intencionais de um homem sereno e determinado em ajudar uma parte da humanidade a encontrar a esperança para enfrentar a crise – a económica e a existencial – e à outra parte da humanidade a encontrar a esperança de vencer o terrível desafio da sobrevivência. Por isso, este Nobel constitui um compromisso que eleva a fasquia das expectativas do mundo relativamente ao cumprimento da «promesse de bonheur».
Eu que não lhe exijo tanto, apenas que não esqueça o seu programa contra a inabitabilidade do mundo, de que a Palestina continua a ser o vergonhoso paradigma, desejo ver nesta nomeação - não obstante, aqui e acolá, Obama já ter revelado algumas daquelas patologias da experiência política contemporânea responsáveis por alguns males do mundo - um incentivo a que faça «frente ao inafrontável», não como um super-homem, mas como alguém capaz, ainda, de evitar a catástrofe de «as coisas continuarem como antes», tanto na América como no resto do mundo. Ora, isso é o que parece indignar o coro de inimigos, adversários - e alguns estúpidos - de todos os extremos que andam por aí alvoroçados contra este Nobel, desde os talibans e Hamas até aos falcões israelitas, os saudosistas de Bush, conservadores, neoconservadores e teoconservadores, de que, por cá, José Pacheco Pereira se revela como a mais acabada ilustração ao declarar a sua patética oposição ao Nobel atribuído Obama.
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