Que mais poderia eu dizer aqui que não tenha já sido dito,
ontem e hoje, e antes, por quem tem autoridade para o dizer, como os "nobel"
Paul Krugmann ou Joseph Stiglitz e tantos outros, de lá de fora, e de cá de
centro, e comentadores também, uns mais à esquerda e outros mais à direita, e
outros nem por isso - se é que estes conceitos, ainda, fazem algum sentido, ou
independentemente do conceito que cada um de nós lhes queiramos atribuir -,
sobre o acordo humilhante para os gregos, sejam quais forem as suas culpas, que
as têm, também, e muitas, e, por isso, muito terão a corrigir. Dizer, talvez,
como escreveu Krugmann, ontem, no New York Times, que o que aconteceu neste fim-de-semana
foi "o fim do projecto europeu" ou como disse, mais dramaticamente,
Miguel Sousa Tavares, há instantes na sic, que foi erguida uma nova
"cortina de ferro" entre o Norte rico dos credores e o Sul
empobrecido dos devedores à conta de governos que se governaram a si próprios
com o beneplácito dos tais credores! Ou ainda, citar Markus Walker que escreveu
no Wall Street Journal que o comunicado do Eurogrupo difundido ainda do final
da cimeira "ficará na história como uma das mais brutais démarches
diplomáticas na vida da União Europeia". Crime e Castigo, como no romance
de Dostoievski, só que nesta tragédia, os criminosos - que os há dos dois lados
da "cortina" - (e não, não me refiro a Tsipras ou Varoufakis que
foram, apenas, românticos esquerdistas, ingénuos, ou mesmo irresponsáveis,
sobretudo por não terem preparado um plano b, mas sim aos outros que antes
deles, as clientelas do pasok e da nova democracia, se foram, obscenamente,
banqueteando com os fundos europeus com a cumplicidade daqueles que, agora, sob
o alto patrocínio francês, impõem o Diktat alemão ao povo grego e que são,
também, e muito, co-responsáveis pela catástrofe grega e pelo fim do projecto
europeu) -, saem impunes e os inocentes não merecem tamanho castigo. Mas isto
digo eu, parafraseando Fernando Pessoa, que não sei nada de finanças.
Diria
tudo isso e muito mais, tivesse eu engenho e arte para o dizer! Mas como não
tenho, limito-me a dizer a minha tristeza por ver a Europa, a Europa renascida
das cinzas de duas guerras, em cujo projecto acalentámos sonhos de democracia,
prosperidade e solidariedade, caminhar à beira do precipício onde, por falta de
gente competente e, sobretudo, por falta de gente com decência que a saiba
governar, vai caindo numa queda sem fim para mal de todos nós, Europeus, quer
sejamos do Norte, do Sul ou do Leste.