da escrita


No Diário de Susan Sontag leio uma passagem que me faz retomar a breve reflexão do post sobre o método deste blogue: «Por que é importante escrever? Sobretudo por egoísmo, suponho. Porque quero ser essa personagem, um[a] escritor[a], e não porque haja algo que deva dizer. Mas por que não também por isso? Com um pouco de construção do ego – como mostra o “fait accompli” destes [blogues] – emergirei lá mais para a frente com a confiança de que tenho algo a dizer, algo que deve ser dito».

Descontando qualquer veleidade literária, pois não pretendo confundir-me com essa personagem, esse escritor, talvez, apenas, com o escrevente de que falava Roland Barthes, se adoptar esta anotação de Susan Sontag, estarei, afinal, a dizer que, apesar de só querer mostrar, também desejo ter algo a dizer. Mas um dizer que é feito do que cai dos livros, perseguindo, como escreveu W. G. Sebald, «um rasto já há muito extinto no ar ou na água [mas que continua] visível, aqui, no papel». Portanto, montagem literária, como construção do ego, mas que só valerá a pena se for reconhecida a sua pertinência, em termos de aproximação aos que me poderão ler, sobretudo os amigos, e como marcação quase diarística de um leitor sem qualidades.

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