27 de março de 2011

Uma cena sem fulgor



«Nunca me inquieto se o texto não vem. Posso passar dias sem escrever. Para mim mesma – não sou escritor. Sou uma contemplativa quando o texto chama. Mas custa-me vê-lo partir desde que comece a estar com ele».

Esta a passagem que retiro de Lisboaleipzig para me confortar da perda - devido a um toque descuidado numa tecla interdita do computador - de um texto que acabara de escrever sobre Maria Gabriela Llansol [1931-2008], correspondendo ao seu próprio chamamento e que interromperia o silêncio auto-imposto à escrita deste blogue.

Não uma palavra, uma frase, um apontamento, mas toda uma formulação, uma variação conduzida por filamentos precários que, ingenuamente, deixei cair numa fenda invisível da folha electrónica e que, agora, seguramente, vai brilhando num qualquer buraco negro do ciberespaço, indiferente ao vazio que, subitamente, se instalou na superfície opaca que já nenhuma luz llansoloniana poderá iluminar.

Não haverá, portanto, neste dia em que o CCB lhe dedicou o dia, juntando numa homenagem os amantes do fulgor do seu texto, a pequena fulguração que esteve quase a irromper, aqui, no écran. Fica o desejo de (re)visitação próxima de uma escritora que para melhor escrever «nas margens da língua» se deu como desaparecida das coisas civis.

[ao alto, foto do filme de vera mantero e miguel gonçalves mendes, viagem ao imaginário da escritora maria gabriela llansol]

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